sábado, 16 de agosto de 2014

"Mi Buenos Aires querido", de Cíntia Moscovich

Resenha do conto:

O conto de Cíntia Moscovich apresenta um narrador personagem sem nome, quase sem identidade. Do início ao fim da narrativa, esse narrador em 1ª pessoa relata um acontecimento em sua vida sem citar seu nome ou até mesmo seu gênero. A autora faz esse jogo com as palavras que não deixa ser apresentada, em momento algum, qualquer dica sobre a verdadeira identidade do narrador. Esse personagem que conta sua história se esconde da curiosidade do leitor, e deixa espaço para a imaginação. A curiosidade se engrandece pelo fato do narrador se envolver com uma personagem do sexo feminino, o que coloca em questão se há um relacionamento heterossexual ou homossexual entre as personagens.

O narrador se envolve com a cidade de Buenos Aires assim como se envolve com a personagem Maria Del Carmen (ou Carmencita). O início do conto cria uma ligação com final dele e com o envolvimento das duas personagens. A cidade é descrita com detalhes, e é utilizada a figura da personificação para descrever Buenos Aires. A cidade se torna personagem do conto, como em “A 9 de Julio se deitou febril para nossa marcha[...], a confeitaria Jockey Club nos lançou um olhar lúbrico.” (página 99). No final do conto, é criada uma comparação entre o encontro das personagens e o encontro das ruas descrito no início do texto.

Um ponto interessante a ser ressaltado é o momento em que o narrador descreve a personagem Carmencita. Ele transmite o encantamento dele pela cantora por meio dos adjetivos e das cores que compõem a figura dela. Essa descrição tem certa intensidade e transpõe um clima de sedução que é acentuado pela mistura entre a fala do narrador e os trechos da canção que a personagem cantava na cena relatada (páginas 95 e 96). Essa passagem, e a forma como o narrador descreve a personagem durante todo o texto, aguça ainda mais a curiosidade em saber quem é esse narrador que se mostra tão seduzido pela figura de Carmencita. 

Entretanto, a maneira como a autora esconde essa identidade do narrador não faz falta no texto. Cria-se uma curiosidade sobre essa personagem, mas a narrativa se compõe de uma maneira que não se faz necessário transparecer maiores características do narrador. A forma como ele se envolve com a personagem Carmencita, envolve também o leitor a querer conhecer mais essa personagem do que o próprio narrador.

Por Bárbara Campos Silva



Obs.: Resenha produzida na disciplina Teoria da Narrativa, ofertada pelo Departamento de Teoria Literária e Literaturas da Universidade de Brasília (UnB), no ano de 2013.